segunda-feira, 26 de março de 2012

Misunderstood

Quando eu vi o trailer de "Hugo" (no Brasil, "A Invenção de Hugo Cabret") foi como um flashback.  Eu me lembrei imediatamente de "A Vila", que foi um filme vendido pelo trailer como outra coisa e deixou as pessoas muito insatisfeitas ao saírem do cinema. Claro, haviam sido enganadas e compraram gato por lebre. O pobre filme levou a fama de ruim, quando estava longe disso.

A sinopse de "Hugo", então, realmente é de assustar plateia mesmo: Criança órfã que vive em estação de trem aprende a consertar relógios e vive aventura. Ahã... Apesar disso, meus instintos cinéfilos me diziam que tinha algo ali. O trailer dizia "O primeiro filme 3D de Martin Scorcese". Isso realmente quer dizer alguma coisa? Claro!

O aperfeiçoamento do uso do 3D no cinema tem sido meramente técnico. Até aí, é normal. Usa-se para vender filmes e atrair público pela novidade. Só que a novidade acaba passando. O uso 3D só se tornará parte integrante do cinema quando for incorporado à linguagem cinematográfica, quando for um recurso utilizado de forma a acrescentar conteúdo, contar a estória e não meramente um efeito especial.

"Hugo", na verdade, dá uma aula de história do cinema e traz, de uma forma a agradar públicos de várias faixas etárias exatamente esta discussão. Voltando ao passado, lembra dos primórdios do cinema e de como o cinema em si era apenas considerado uma novidade dos tempos modernos mas, encontrando uma linguagem própria, passou a ser arte.

É um filme primorosamente bem realizado que faz uma homenagem ao próprio cinema e sua evolução, o grande mestre George Meliés e sua obra no centro do palco mas tem menção inclusive à D. W. Griffith (que na minha opinião também não poderia faltar). Direção incrível, fotografia espetacular, direção de arte impressionante. Acredito que os verdadeiros amantes de cinema se deliciarão tanto quanto os de literatura ao ver "Meia-noite em Paris". E, além disso, é um filme divertido para toda a família.

Infelizmente, a carreira de "Hugo" no Brasil não foi muito feliz. Seja pela sinopse, seja pelo trailer, acredito que muita gente saiu por aí achando o filme estranho ou deixando passar por falta de instinto. O filme foi realizado para ser visto em 3D. A discussão é basicamente essa. Entretanto, encontra-se ainda nos cinemas, sim. Mas achei apenas dublado, em horários escassos e em salas 2D. É uma pena. Uma vez que um diretor finalmente faz uso metalinguístico de uma ferramenta que já está se tornando até sinônimo de filme ruim, o filme é retirado das salas a que se destinou.

Só me resta esperar o Blu-Ray com comentários. E agora eu vou senão fico aqui contando todos os detalhes e dando spoilers.




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